O Rio Paraguai atingiu na quarta-feira (09) uma marca histórica preocupante: com 60 centímetros abaixo do nível zero, igualou a segunda maior seca já registrada
O dado foi confirmado pelo Centro de Hidrografia e Navegação do Oeste, em Ladário, subordinado ao Comando do 6º Distrito Naval. A última vez que o rio atingiu esse nível foi em outubro de 2021, enquanto a maior seca histórica foi registrada em 1964, com uma altura negativa de 61 centímetros.
A medição, realizada na régua de Ladário, é considerada referência para monitorar a estimativa no Pantanal, já que o local tem dados históricos desde 1900. Segundo a Embrapa Pantanal, a seca mais severa no bioma ocorreu entre 1964 e 1973, com um ciclo de dez anos consecutivos de baixos níveis de água.
Apesar dos níveis negativos, o Serviço Geológico do Brasil (SGB) esclarece que isso não significa a ausência de água no leito do rio. Abaixo da cota zero, o Rio Paraguai ainda possui cerca de cinco metros de profundidade em Ladário, conforme dados da Marinha, mas a marca é um indicativo claro da gravidade da estimativa.
Impactos da estiagem prolongada
O pesquisador da Embrapa, Carlos Padovani, ressalta que a seca no Rio Paraguai já dura desde 2019, afetando diretamente o ciclo natural de transbordamento do rio, que é crucial para a manutenção da ecossistema do Pantanal. “Desde aquele ano, o rio deixou de atingir o nível necessário para inundar o Pantanal de forma adequada”, destaca Padovani, apontando que essa interrupção no ciclo de cheias prejudica a fauna, a flora e, em especial, a reprodução de peixes, como o pacu e o pintado, que dependem das inundações para desovar.
Além do impacto ambiental, a seca também afeta o abastecimento de água nas cidades de Corumbá, Ladário e Porto Murtinho. Recentemente, a Sanesul, responsável pelo serviço de saneamento, chegou a um intervalo o suficiente para ajustar o sistema de coleta no rio Paraguai.
Desafios para o futuro e o risco de novas crises
A previsão é de que o nível do rio continue em declínio nos próximos dias, o que pode resultar na marca mais baixa em 124 anos de monitoramento. Essa situação levanta questionamentos sobre as previsões de projetos de infraestrutura, como a construção de portos e hidrovias no rio. “Com a tendência de eventos climáticos extremos, principalmente estiagens prolongadas, é necessário repensar esses investimentos”, alerta Padovani.
O especialista ainda explica que a desconexão do rio com suas áreas de várzea e inundação, essencial para a dinâmica do Pantanal, é uma preocupação preocupante. “O transporte do rio é fundamental para a comunicação com as barragens pantaneiras. Sem essa conexão, o Pantanal perde uma de suas características mais marcantes, que o diferenciam do Cerrado”, pontua.
Com os aquíferos como principal fonte de água para o rio e a escassez de chuvas, uma solução para a crise hídrica no Pantanal parece distante. “Somente com chuvas graves no planalto de Mato Grosso nos próximos meses poderemos ver uma recuperação no nível do Rio Paraguai”, concluiu Padovani, reforçando a importância de políticas públicas que contemplam a preservação do bioma e a mitigação dos impactos das mudanças climáticas.