Enquanto principal índice da Bolsa brasileira semana acumulou queda na semana, nos Estados Unidos tendência foi de alta
O Ibovespa fechou em queda de 1,47% nesta sexta-feira (3), aos 108.523 pontos, acumulando ainda uma baixa de 3,38% na semana – a primeira de baixas em 2023. O principal índice da Bolsa brasileira repercutiu hoje principalmente as falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o movimento dos benchmarks americanos.
Em entrevista à Rede TV na noite de ontem, o petista atacou o mercado, que segundo ele “já ganhou demais”. Além disso, falou que a independência do Banco Central é uma “bobagem” e defendeu que o Brasil não tem de perseguir uma inflação do “padrão europeu”.
“Além de repercutir o que acontece lá fora, o Ibovespa sente também o peso de algumas falas de Lula, principalmente no que tange o Banco Central. Incertezas políticas e fiscais continuam afetando o mercado por aqui, para além do temor de uma recessão global”, explica Jennie Li, estrategista da XP Investimentos.
As falas estenderam a questão que começou na quarta-feira, quando os dirigentes do Banco Central, após o Comitê de Política Monetária, (Copom), sinalizaram que podem manter a taxa de juros brasileira em patamares elevados por mais tempo – isso para conter, justamente, a inflação causada pelo expansionismo dos gastos públicos.
A curva de juros brasileira, com isso, avançou em bloco. Os DIs para 2024 ganharam 14 pontos-base, a 13,83%, e os para 2025, 21 pontos, a 13,28%. As taxas dos contratos para 2027 e 2029 subiram, respectivamente, 27,5 e 26 pontos, a 13,18% e 13,33%. Os DIs para 2031 fecharam a uma taxa de 13,41%, com mais 25 pontos.
Com isso, as maiores quedas do Ibovespa foram de companhias de crescimento e as ligadas ao mercado interno. As ações ordinárias da Yduqs (YDUQ3) perderam 12,79%, as da Hapvida (HPAV3), 9,39% e as da Locaweb ([ativo=WSA3]) 5,99%.
Nos Estados Unidos, na quarta-feira, Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, falou que as taxas poderiam começar a cair neste ano, o que animou o mercado. Contudo, os dados do mercado de trabalho por lá elevaram o temor de que elas ficarão altas, o que aumentou a aversão ao risco nesta sexta.
“Lá fora, os índices americanos recuaram após a divulgação do Payroll de janeiro, que veio bem acima das expectativas, mostrando um mercado de trabalho ainda forte. O Fed responde, principalmente, à inflação e à criação de empregos, sendo que os números de hoje indicam que ainda há espaço para fazer, ao menos, uma taxa de juros”, explica a especialista da XP.
O relatório Payroll trouxe que 517 mil vagas de trabalho fora do setor agrícola foram criadas no primeiro mês de 2023, número bem maior do que a expectativa de 185 mil vagas. A taxa de desemprego americana ficou em 3,4%, a menor em 50 anos.
Um mercado de trabalho muito forte tende a manter a economia aquecida e, decorrentemente, a inflação muito elevada.
“O mercado de trabalho aquecido reforça a ideia de que o Fed continuará a subir os juros para segurar a alta nos preços, o que aumenta o fluxo estrangeiro no país especialmente contra divisas com maior risco de investimento”, diz Diego Costa, Head de Câmbio para o Norte e Nordeste da B&T Câmbio.
Os treasuries yields para dez anos saltaram 13,8 pontos-base, a 3,534%, e os para dois anos, 20,9 pontos, a 4,299%.
A Nasdaq e o S&P 500, índices que possuem mais companhias de crescimento, recuaram 1,59% e 1,04%, respectivamente. Na semana, porém, os dois índices ganharam 3,31% e 1,60%, na mesma sequência. O Dow Jones, mais exposto à “economia real”, caiu 0,38% hoje e 0,15% na semana.
A alta dos treasuries yields fez o dólar ganhar força mundialmente, com o DXY, que mede o seu desempenho frente a outras divisas de países desenvolvidos, ganhando 1,21%, a 102,98 pontos. Frente ao real, a alta foi de 2,03%, a R$ 5,147 na compra e a R$ 5,148 na venda, com alta ainda de 0,7% na semana.