A 28ª edição do Showtec, tradicional feira de tecnologia agrícola realizada em Maracaju, teve início nesta terça-feira com um ingrediente a mais: a mobilização do agronegócio por medidas urgentes para salvar o setor endividado. Faixas espalhadas entre estandes e equipamentos chamaram a atenção de quem passou pelo evento: “O AGRO DO MS PEDE SOCORRO” e “SECURITIZAÇÃO JÁ” ecoaram como palavras de ordem entre os produtores rurais que participaram da feira.
O protesto faz referência ao Projeto de Lei nº 320/2025, que tramita no Senado Federal e propõe a securitização de dívidas agrícolas, com condições especiais para produtores em situação crítica. De autoria do senador Luis Carlos Heinze (PP/RS), o texto prevê transformar os débitos acumulados em títulos com garantia federal, prazos de até 20 anos e juros reduzidos.
“Asfixiados” pela crise
A movimentação em Maracaju se soma à onda de protestos que começou no Rio Grande do Sul, onde tratores bloquearam cidades nas últimas semanas em um apelo ao governo federal e ao Senado para a aprovação da proposta. A base da insatisfação é a mesma: três anos consecutivos de frustração de safra, agravados por eventos climáticos extremos como secas prolongadas, geadas e inundações.
“Os custos subiram, o clima não ajudou, e muitos estão com dívidas impagáveis. Sem o PL, perderemos terras e capacidade de produzir”, afirmou um produtor de soja de Maracaju, que preferiu não ser identificado.
Evento técnico, clima político
Embora o Showtec mantenha seu foco tradicional em tecnologias e soluções para o campo, a mobilização dos produtores marcou presença nas discussões e corredores do evento. Representantes da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul) não ignoraram o apelo dos agricultores e reforçaram que “o agro precisa de políticas urgentes, não apenas de inovação”.
A organização do Showtec não se posicionou oficialmente sobre as faixas.
Pressão deve continuar
O projeto de lei segue em análise na Comissão de Agricultura do Senado, com expectativa de votação até junho. Enquanto isso, entidades representativas do setor indicam que novos atos devem ocorrer em outras feiras e pontos estratégicos do país.
“Maracaju foi só o início. O Brasil rural está unido por essa causa. Não estamos pedindo favor, estamos pedindo fôlego para continuar produzindo”, declarou um grupo de agricultores sul-mato-grossenses que acompanha de perto o andamento do PL.
A Showtec segue até quinta-feira (22), reunindo produtores, pesquisadores e empresas do setor em um dos eventos mais relevantes para o agronegócio brasileiro. Mas, desta vez, a vitrine da tecnologia dividiu o protagonismo com o grito de socorro de quem vive do campo.
