Na segunda-feira (5), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou dados sobre a participação dos salários no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil caiu para o seu nível mais baixo em 19 anos
Essa queda foi de 12,9% nos últimos anos, representando uma tendência preocupante.
Desde 2016, a renda do trabalhador tem diminuído, atingindo seu pico de 44,7% do PIB neste ano. Entretanto, em 2021, os salários representaram 39,2% do PIB, marcando o menor nível desde 2004. Enquanto isso, o excedente operacional bruto, que corresponde aos lucros das empresas, cresceu de 32,1% em 2015 para 37,5% do PIB brasileiro em 2021, alcançando o maior patamar da série histórica iniciada em 2000.
Economistas apontam três fatores principais para essa tendência preocupante: a queda na renda do trabalho; a redução de vagas de emprego e o aumento dos lucros devido à digitalização e automação; e o aumento da contratação de pessoas jurídicas, como microempresários individuais (MEI), para prestação de serviços.
Kátia Namir, gerente de Renda e Investimento de Contas Nacionais do IBGE, ressaltou a preocupação com a desigualdade na distribuição funcional da renda, onde mais renda está sendo apropriada pelo capital e menos pelos trabalhadores.
Esse período de queda na participação dos salários no PIB entre 2016 e 2021 foi marcado por duas crises significativas. A primeira, a recessão iniciada em 2014 durante o governo de Dilma Rousseff, resultou em uma retração de cerca de 7% do PIB e elevadas taxas de desemprego. A segunda crise, desencadeada pela pandemia, agravou ainda mais a situação econômica com medidas de lockdown adotadas por municípios e Estados.
Cristiano Martins, gerente de Bens e Serviços de Contas Nacionais do IBGE, destacou que a inversão no crescimento dos lucros em detrimento da renda pode ter impactos positivos ou negativos no bem-estar da população, dependendo da estrutura econômica de cada país. No entanto, no Brasil, essa tendência é preocupante, dado o cenário em que os trabalhadores têm pouca participação no capital.
E Comparativamente, dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostram que os países mais ricos têm uma participação da remuneração dos empregados mais próxima de 50%. Enquanto isso, no Brasil, o nível de participação está abaixo desses padrões, indicando uma disparidade econômica preocupante.