O apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro, outrora considerado um trunfo eleitoral, parece não estar se traduzindo em votos para candidatos em várias cidades do país, incluindo Campo Grande.
A candidatura de Beto Pereira (PSDB) é um exemplo claro dessa desconexão entre o apoio político e a aceitação popular. Apesar de ser apresentado como o candidato de Bolsonaro, Beto não consegue mobilizar o eleitorado bolsonarista, que o vê com desconfiança e não o reconhece como um representante legítimo de seus valores.
A situação de Beto Pereira é emblemática de um fenômeno mais amplo. Em várias cidades, candidatos que recebem o endosso de Bolsonaro enfrentam dificuldades para converter esse apoio em intenções de voto.
O histórico político de Beto, marcado por posicionamentos que, para muitos, contradizem os ideais bolsonaristas, é uma das principais razões dessa resistência. Acusado por parte da militância de ter se oposto a pautas governistas durante seu mandato como deputado federal, Beto carrega uma bagagem que gera calafrios na direita mais conservadora.
Para alguns analistas, a aliança entre Beto Pereira e Bolsonaro tem motivações que vão além da afinidade ideológica. O acordo que selou o apoio do ex-presidente seria fruto de uma negociação entre o ex-governador Reinaldo Azambuja, líder do PSDB no estado, e Valdemar da Costa Neto, presidente nacional do PL.
Muitos acreditam que promessas de apoio financeiro e político estiveram no centro dessa aliança, o que reforça a percepção de que o apoio de Bolsonaro foi mais uma questão de conveniência do que de convicção.
Essa movimentação política causou um abalo na base bolsonarista, que esperava que o ex-presidente apoiasse Adriane Lopes (PP), candidata indicada pela ex-ministra e senadora Tereza Cristina.
A expectativa frustrada intensificou o ceticismo em relação a Beto Pereira, que, mesmo figurando tecnicamente empatado com Adriane em algumas pesquisas, ainda enfrenta a resistência de boa parte do eleitorado.
Na última pesquisa Quest, tanto Beto quanto Adriane apareceram com 15% das intenções de voto, enquanto Rose Modesto (União Brasil) lidera com 34% e Camila Jara (PT) tem 6%. Esses números mostram que, apesar do apoio de Bolsonaro, Beto ainda luta para se consolidar como uma escolha viável para os eleitores de direita em Campo Grande.
Esse fenômeno de rejeição ao apoio de Bolsonaro não é exclusivo de Campo Grande. Em São Paulo, por exemplo, o candidato Ricardo Nunes (MDB) também enfrenta dificuldades, apesar de sua aliança com Bolsonaro e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
A estratégia de Nunes para atrair o eleitorado bolsonarista tem gerado mais desgaste do que benefícios, sobretudo entre os eleitores que rejeitam o ex-presidente.
A última pesquisa Datafolha em São Paulo revela que Nunes está tecnicamente empatado com Guilherme Boulos (PSOL), com 23% e 24% das intenções de voto, respectivamente.
Essa proximidade reflete a dificuldade de Nunes em expandir sua base, mesmo com o apoio de Bolsonaro. Além disso, 61% dos eleitores paulistanos afirmam que não votariam em um candidato apoiado por Bolsonaro, um número significativamente maior do que a rejeição a candidatos apoiados por Lula, que é de 45%.
Esses dados indicam que, apesar de Bolsonaro ainda ter uma base fiel, sua influência nas eleições municipais é limitada. O apoio do ex-presidente, longe de ser uma garantia de sucesso, pode até se tornar um fardo para candidatos que não conseguem se conectar genuinamente com o eleitorado bolsonarista.
A percepção de que esses candidatos não representam de fato os valores e as ideias de Bolsonaro está se refletindo nas urnas, demonstrando que o eleitor está cada vez mais exigente e atento às incoerências dos seus possíveis representantes.