Em um daqueles vídeos onde parece que ele mesmo não sabe bem o que quer dizer, o ex-deputado estadual cassado Rafael Tavares surgiu nas redes sociais neste domingo tentando explicar o inexplicável
Mas, ao invés de tirar suas próprias conclusões – o que seria pedir demais, claro – ele preferiu jogar essa difícil missão para seu público fiel. Afinal, quem melhor do que seus seguidores para decifrar o emaranhado de ideias confusas que ele apresentou?
Tavares começa sua epopeia verbal dizendo que Bolsonaro tomou algumas decisões, que “explicaram para ele” – como se isso fosse alguma garantia de clareza. E então, num gesto digno de um verdadeiro estadista, ele deixa que cada um interprete como quiser. Até aqui, nada de novo. O ex-deputado reforça ainda que mantém uma relação transparente com seu público por não ser um “político profissional”. O detalhe cômico, ou trágico, é que essa transparência parece não se aplicar às denúncias feitas pela imprensa de que ele mantinha dois assessores em seu gabinete na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (ALMS), recebendo verbas de mídia para seus próprios veículos de comunicação. Mas quem se importa com esses detalhes, não é mesmo?
Entre as pérolas do vídeo, Tavares lista as nobres razões de Bolsonaro para suas recentes jogadas políticas: conseguir a anistia dos presos do 8 de janeiro, reverter sua própria inelegibilidade e, claro, garantir uma base forte para 2026. Parece mais uma daquelas estratégias que são excelentes… para quem está no topo. Mas, ei, se tem alguém que acredita que isso vai beneficiar a “direita como um todo”, esse alguém só pode ser o próprio Tavares.
Quando questionado sobre o motivo de não ter deixado o PL, partido que em Campo Grande se aliou a Beto Pereira, Tavares mais uma vez nos brinda com uma justificativa criativa: “Tudo que a esquerda quer é que a gente desista.” Claro, porque usar a esquerda como bode expiatório sempre funciona. E quanto à sua prometida independência na campanha para vereador? Bem, é difícil acreditar quando o partido está coligado com o PSDB. Mas ele diz que vai conduzir a campanha de forma independente, então, vamos fingir que acreditamos.
Em vez de falar de questões práticas que afetam diretamente Campo Grande, o ex-deputado preferiu surfar em pautas abstratas, como ideologia de gênero nas escolas – porque, claramente, essa é a prioridade do momento. No final das contas, o vídeo de Rafael Tavares é mais uma obra-prima de sua especialidade: falar muito, dizer pouco e, no fim, deixar tudo em aberto para que cada um tire suas próprias conclusões. Quem sabe, na próxima vez, ele nos surpreenda com alguma clareza – mas não vamos segurar a respiração esperando por isso.