Direitos humanos, melhores condições de vida e defesa da democracia foram os principais temas reivindicados
Direitos humanos, melhores condições de vida e defesa da democracia: esses foram os três principais temas dos protestos que chamaram a atenção pelo mundo em 2022.
Além das pautas, as manifestações têm outro ponto em comum: foram impulsionadas pela população mais jovem, que conseguiu até driblar a censura em países como o Ira e a China para fazer com que os movimentos ficassem mais fortes com a repercussão de imagens na internet.
Nesses dois países, inclusive, os protestos ganham destaque pelo ineditismo. O tamanho da atual onda de manifestações no Irã só pode ser comparado à Revolução Islâmica de 1979, e a revolta na China lembra o episódio da Praça da Paz Celestial, de 1989.
No Irã, a luta que começou pelos direitos das mulheres acabou se tornando ainda maior, englobando direitos humanos de forma geral. Na China, também há revolta contra medidas autoritárias ligadas à política de Covid zero, com confinamentos que impõem custos políticos, sociais e econômicos ao país.
Países como Estados Unidos, França, Argentina e Chile também tiveram multidões nas ruas em 2022. A seguir, confira um resumo das principais manifestações de 2022 e o saldo de cada uma delas.
Na China, milhares desafiam autoridades pela 1ª vez em décadas
Neste ano, a China registrou momentos de revolta quase inéditos na história do país. Em novembro, protestos de trabalhadores da Foxxcon, principal unidade de montagem de iPhones, tornaram-se violentos, com confrontos com as forças de segurança nas ruas ao redor da fábrica.
As manifestações foram motivadas por questões trabalhistas: em outubro, um surto de Covid-19 na Foxxcon chegou a fechar a unidade, o que provocou uma fuga em massa de funcionários.
Para preencher as vagas, a empresa ofereceu um pacote de benefícios atraente, mas ao chegar para trabalhar, os recém-contratados disseram que a Foxxcon apresentou condições bem diferentes do que havia sido ofertado.
Os protestos ganharam ainda mais força graças às redes sociais, já que muitos trabalhadores ficaram sabendo das manifestações por aplicativos como o Kuaishou e o Douyin (como o Tiktok é conhecido no país). Mas não demorou para que muitas transmissões ao vivo das manifestações fossem censuradas e derrubadas.
Também geraram revolta as medidas extremamente restritivas da política de Covid zero adotada pela China. Um incêndio que deixou pelo menos dez pessoas mortas em um prédio fechado por causa das medidas tornou-se o estopim de manifestações que se espalharam pelo país.
Vídeos que circularam nas redes sociais sugeriram que os bloqueios nas ruas atrasaram a chegada da emergência, o que foi a gota d’água para muitos, cansados das restrições mesmo com o alívio da situação da pandemia pelo mundo.
Os protestos foram impulsionados pelos mais jovens, que se rebelaram não só contra a política da Covid zero, mas contra o próprio regime chinês. Muitos seguraram folhas de papel em branco como crítica à censura que sofrem no país. Os manifestantes também pediram a saída de Xi Jinping do poder, pouco depois de o líder chinês começar um terceiro mandato histórico.
As manifestações foram duramente reprimidas em muitas partes do país, mas em dezembro a China começou a flexibilizar a política restritiva com relação à doença.
No Irã, morte de jovem provoca maior onda de revoltas no país desde 1979
A morte de Mahsa Amini, jovem de 22 anos que estava sob custódia da polícia dos costumes por alegações de não usar o véu islâmico de maneira adequada, desencadeou uma série de protestos que ultrapassaram as fronteiras do Irã e ganharam o mundo, com manifestações de apoio da comunidade internacional.
Até mesmo a seleção de futebol do país demonstrou solidariedade à causa durante a Copa do Mundo deste ano.
A onda de revoltas só pode ser comparada à Revolução Islâmica de 1979. Mas desta vez, o poder da internet amplificou o movimento. Muitos conseguiram maneiras de driblar a censura do país e informar o mundo sobre os protestos — duramente reprimidos pelas autoridades e com relatos preocupantes de execuções.
Apesar disso, as manifestações continuam e ganham força com o respaldo da diáspora iraniana, que segue chamando atenção para a situação em diferentes partes do globo.
A pressão sobre as autoridades iranianas para abolir a polícia dos costumes também aumenta. No começo de dezembro, o procurador-geral do Irã, Jafar Montazeri, chegou a sugerir durante uma conferência religiosa que o departamento tinha deixado de existir — mas logo a mídia estatal iraniana desmentiu a informação.
Ainda em dezembro, a imprensa oficial do país também confirmou as primeiras execuções de manifestantes e a prisao da atriz ganhadora do Oscar e ativista Taraneh Alidoosti, que fez publicações contra o regime religioso e as execuções em suas redes sociais.
Crises econômicas desencadeiam protestos na Argentina, no Chile e na França
A inflação alta de 2022 em todo o mundo, alavancada pelos efeitos da pandemia e da guerra na Ucrânia, agravou a situação de países que já passavam por crises políticas.
Na Argentina, o governo chegou a anunciar um aumento de até 150% nas tarifas de água, eletricidade e gás. Manifestantes foram às ruas da capital, Buenos Aires, protestar contra as medidas do presidente, Alberto Fernández, e exigir aumentos de salários de funcionários públicos e de empresas privadas, além de um auxílio universal do governo.
No Chile, a onda de manifestações que começou em 2019 seguiu neste ano com reivindicações pela nova Constituição, principalmente por parte da população mais jovem do país. Mas o documento, que tinha o apoio do presidente, Gabriel Boric, foi rejeitado nas urnas. Com isso, continua valendo o texto em vigor desde a época da ditadura de Augusto Pinochet, durante a década de 1970.
Já na França, milhares protestaram por causa do aumento no custo de vida do país, com uma greve geral que paralisou o país. O movimento começou nos setores de energia e transportes, afetando deslocamentos em todo o país e até mesmo entre Paris e Londres.
Os trabalhadores pediram por maiores salários em meio à alta nos preços, acentuada pelo corte no fornecimento de gás natural vindo da Rússia.