O discurso contra a mamata parece ter mais exceções do que regras quando se trata do gabinete de Rafael Tavares (PL), vereador de Campo Grande. Enquanto nas redes sociais o parlamentar segue empunhando a bandeira da moralidade pública com fervor quase messiânico, nos bastidores o enredo é bem diferente. O site MS Conservador, comandado por seu chefe de gabinete, Danilo Azambuja, continua recebendo recursos públicos por meio de publicidade institucional, e não apenas de uma fonte, mas de pelo menos dois órgãos distintos, sendo um deles patrocinado pelo governo federal do… pasmem… presidente Lula.

Sim, você não leu errado. Enquanto o discurso conservador arde nas redes sociais, na prática, o portal ”anti-esquerda” se beneficia, ainda que indiretamente, da verba de um governo petista. Ironias da política local.
Em abril, a reportagem do Fato67 observou dois banners ativos no MS Conservador, um da Prefeitura de Campo Grande e outro da Assomasul, associação que conta com repasses federais. Fontes consultadas indicam que a publicidade veiculada pela prefeitura pode girar em torno de R$20.000,00, enquanto a da Assomasul estaria na casa dos R$10.000,00. Os valores exatos? Bem, esses continuam guardados a sete chaves, já que a transparência, ao que parece, é algo seletivo por aquelas bandas.

Vale lembrar que essa não é a primeira vez que o site ligado ao gabinete de Tavares levanta suspeitas. Ainda em 2023, veio à tona que Danilo Azambuja, enquanto era servidor da Assembleia Legislativa, também era o responsável pelo CNPJ do site, uma prática vedada pelas regras da própria Casa. Desde então, mudanças superficiais foram feitas no cadastro, mas os indícios de controle do site por Azambuja permanecem. O e-mail de contato do domínio segue com o nome do assessor, como um lembrete digital de que, por ali, as aparências mudam mais que a estrutura.

E se você acha que a semana não poderia piorar para o time do vereador moralista, respire fundo. O site O Jacaré revelou que Lucas Rael Alves Acosta, outro assessor de Tavares, foi denunciado pelo Ministério Público Estadual por desvio de recursos. O valor, cinco mil setecentos e oitenta e nove reais, teria sido retirado da Crediquali para comprar um GM Astra 2009 de uso pessoal. Mas não para por aí. Rael também teria instalado uma empresa numa sala comercial alugada em nome da cooperativa e usado recursos para montar um estúdio de música. Tudo muito criativo, digamos assim.

Diante de tudo isso, resta a dúvida. Será que o combate à mamata acabou virando um plano de negócios? Ou quem sabe um conceito flexível, que muda conforme o beneficiário?
Até agora, nem o vereador Rafael Tavares, nem seus assessores diretamente citados, explicaram como um site supostamente ligado a seu gabinete consegue manter contratos com entes públicos enquanto ele esbraveja contra o sistema. E muito menos como se dá a compatibilidade entre o discurso de libertar Campo Grande da esquerda e a manutenção de publicidade que conta com patrocínio oriundo justamente da gestão federal petista.
Enquanto isso, o MS Conservador segue ativo, publicando conteúdos de forte viés ideológico, combatendo tudo isso que está aí, com o auxílio, claro, de recursos públicos de tudo isso que está aí.