O que era para ser um ato simbólico de união e civilidade virou uma cena constrangedora, com direito a vergonha alheia e aquele silêncio desconfortável que só quem já foi deixado de mão estendida conhece. Foi assim a participação das principais figuras políticas de Campo Grande na 2ª Caminhada Todos por Elas, realizada neste sábado, dia 31, na Concha Acústica do Parque das Nações Indígenas.
Em um momento que parecia ter saído de um manual de diplomacia improvisada, o senador Nelsinho Trad, com seus dentes reluzentes como faróis de LED, tentou bancar o pacificador global. Sem combinar com ninguém, teve o “insight” de convidar ao palco a atual prefeita de Campo Grande, Adriane Lopes, e a ex-candidata derrotada, Rose Modesto, para selarem uma trégua pública. Um gesto digno de quem acredita que política se resolve com um aperto de mãos e uma foto para o Instagram.
“Rose, vem aqui. A gente saiu de um processo eleitoral onde praticamente a cidade se dividiu e teve uma vencedora, foi a prefeita Adriane Lopes. Vamos dar as mãos para simbolizar que todos estão por elas”, discursou Nelsinho, empolgado, achando que estava promovendo a paz mundial.
O que ele não esperava, e talvez ninguém ali, era a completa falta de elegância e diplomacia de Rose, que aceitou o convite, subiu ao palco, cumprimentou timidamente Adriane e… simplesmente virou as costas. Enquanto o senador ainda falava, Rose saiu andando, deixando Adriane sozinha, com a classe e serenidade de quem claramente foi a adulta madura da situação.
Adriane, com boa vontade e educação, manteve-se firme e tranquila, mostrando que, ao contrário da adversária, sabe que política se faz com civilidade, mesmo diante de quem ainda não superou a derrota nas urnas. Rose, por sua vez, deixou claro que a campanha eleitoral de 2024 segue viva em seu coração, não no bom sentido, e demonstrou que para certas mágoas, nem o tempo nem as caminhadas de conscientização são suficientes.
O evento, que tinha como pauta o combate à violência contra a mulher, reuniu dezenas de pessoas e apostou na conscientização e educação para frear a violência. Pena que faltou, ali no palco, um pouco mais de educação política e pessoal.
A situação ganha contornos ainda mais irônicos diante do histórico recente. Como revelou matéria do portal O Contribuinte, veiculada no dia 26 de maio, o processo de cassação contra Adriane Lopes contou com a atuação direta de Newley Amarilla, advogado que integrou a equipe jurídica da própria Rose Modesto na campanha de 2024. A relação entre Rose e Newley foi intensa e estratégica, com atuação na elaboração de ações contra adversários, incluindo, claro, Adriane.
Mas o desfecho jurídico, ao contrário da cena no palco, foi favorável à prefeita. Por 5 votos a 2, a Corte Eleitoral rejeitou a denúncia apresentada por DC e PDT, que acusavam Adriane de abuso de poder político, econômico e religioso.
No final das contas, Adriane se manteve como a adulta da mesa — ou, neste caso, do palco — enquanto Rose, com sua saída apressada, reforçou a imagem de quem ainda não engoliu a derrota. Como diriam os mais experientes: política é para quem sabe perder. E pelo visto, ainda falta um pouco disso por aqui.
