Má conservação da frota, atrasos e superlotação estão entre os principais problemas apontados por usuários; vereadores classificam situação como “insustentável”.
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga o Consórcio Guaicurus, responsável pelo transporte coletivo de Campo Grande (MS), já recebeu 440 denúncias da população em apenas 28 dias de canal aberto. O número equivale a uma média superior a 15 reclamações diárias, evidenciando o descontentamento generalizado com o sistema de ônibus da Capital.
Entre os dias 25 de março e 22 de abril, a comissão coletou relatos por diferentes canais: foram 371 mensagens enviadas por WhatsApp, 34 e-mails, 32 formulários preenchidos, 2 ligações telefônicas e uma denúncia presencial. A maioria dos registros aponta problemas como má conservação da frota, falta de veículos e atrasos frequentes.
Segundo o relatório parcial da CPI, a má conservação lidera as reclamações, representando 33% das denúncias recebidas. Já a falta de ônibus e os atrasos aparecem com 10% cada. “As reclamações evidenciam um sistema de transporte público em crise, marcado por superlotação, atrasos, má conservação e descaso com os usuários”, destacaram os parlamentares que compõem a comissão.
Situação “insustentável”, apontam vereadores
Diante dos relatos, a CPI classifica a situação atual do transporte público da cidade como “insustentável e prejudicial à qualidade de vida dos moradores de Campo Grande”. O relatório ainda aponta que a população exige medidas urgentes, como renovação da frota, ampliação das linhas, fiscalização mais rigorosa e maior transparência na gestão do sistema.
A comissão foi instaurada a partir da junção de dois requerimentos, apresentados pelos vereadores Junior Coringa (MDB) e Lívio Leite (União Brasil). O grupo é composto por Lívio Leite (presidente), Ana Porela (PL – relatora), Luiza Ribeiro (PT), Maicon Nogueira (PP) e Junior Coringa (MDB).
Três pontos centrais de investigação
A CPI foi criada com base em três fatos determinados:
- Idade e estado de conservação da frota nos últimos cinco anos, considerando os limites contratuais estabelecidos;
- Equilíbrio financeiro do contrato com o Consórcio, especialmente após os subsídios concedidos pela prefeitura por meio das Leis Complementares nº 519/2024 e nº 537/2024;
- Atuação fiscalizatória da Prefeitura, da Agereg (Agência Municipal de Regulação) e da Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito), sobretudo após o Termo de Ajustamento de Gestão (TAG) firmado com o TCE-MS em novembro de 2020.
Flagrantes expõem precariedade da frota
Na última semana, um flagrante ocorrido na Avenida Eduardo Elias Zahran, esquina com a Avenida Três Barras, escancarou a realidade da frota em circulação. Dois ônibus precisaram ser rebocados: o veículo de prefixo 1260, fabricado em 2011, foi guinchado pelo de prefixo 1211, de 2013. Ambos têm mais de uma década de uso.
Segundo a página “Ligados no Transporte”, testemunhas relataram que o ônibus rebocado fazia barulhos altos, indicando possíveis problemas mecânicos. A cena reforça a sensação dos usuários de que veículos antigos e com manutenção precária continuam operando nas ruas da Capital, em desacordo com o que se espera de um serviço de transporte público de qualidade.
A CPI segue ouvindo denúncias e deve apresentar novos desdobramentos nas próximas semanas.