Prepare o terno e a gravata: a vereadora douradense Isa Jane Marcondes (Republicanos), mais conhecida como “Cavala”, deixou claro em vídeo publicado no Instagram na última quarta-feira (23) que sua mira política não se limita à Câmara Municipal de Dourados. Ao lado do senador mineiro Cleitinho Azevedo, ela decretou:
“Eu já queria senadora pra regaçar o Mato Grosso do Sul.”
E não é pouca ambição. Eleita em 2024 com 2.992 votos, número que a tornou a parlamentar municipal mais votada da cidade. Isa não pretende mais puxar rede na Casa de Leis de Dourados. Nos bastidores, já a colocam como uma das favoritas para disputar uma cadeira na Assembleia Legislativa de MS em 2026, ao mesmo tempo em que flerta para a corrida ao Senado.
Entre fé e… cabaré
O curioso é que o Republicanos, partido com base evangélica e detentora de um eleitorado fiel à Igreja Universal, abriga no seu quadro uma empresária de prostíbulo sem pestanejar. Dona de um dos bordéis mais badalados da segunda maior cidade do estado, Isa “Cavala” é prova viva de que “moral e bons costumes” nem sempre são requisitos para se manter ao lado de pastores e deputados.

Em 2024, um de seus vídeos virou hit: ela apontava para os seios de uma suposta apoiadora e soltava:
“Cavalada, sabe aquela teta? Vocês ainda estão mamando nela. Chama a ‘Cavala’ que a ‘Cavala’ chega com essa pôneizinha.”
Se alguém ainda tinha dúvidas sobre sua verve irreverente, bastou isso para provar que “politicamente correta” não está no seu dicionário. E isso, claro, só aumentou seu engajamento nas redes.
Crise de espaço no partido
A popularidade de Isa acende o alerta no deputado estadual e presidente do Republicanos em MS, Antônio Vaz, também pastor da Universal. Em um partido que já mira vagas na Assembleia e na Câmara Federal, a “Cavala” ameaça ocupar a cadeira de sonho de Vaz. Afinal, o Republicanos dificilmente emplaca dois nomes fortes em 2026 na Assembleia Legislativa e o veterano corre o risco de ficar desempregado e ter de voltar a pastorear só na igreja.

Do outro lado, o vereador de Campo Grande Neto Santos, outro pastor da Universal, espreme os dedos para alcançar uma vaga na Câmara Federal. Mas hoje o Republicanos ainda não tem nomes de peso que garanta esse assento. E no jogo de alto risco ao Senado, Isa teria de disputar com caciques como Gerson Claro (PP) e talvez o ex-governador Reinaldo Azambuja (PSDB), caso este não seja barrado pela Operação Vostok, além de sua conerrânea Gianni Nogueira que atualmente é a pré-candidata do PL e Marcos Pollon que também não descarta concorrer uma vaga ao senado.
Fé, política e o inexplicável
Nada disso parece constranger os pastores do Republicanos. Em vez de buscar “purificar” o quadro partidário, eles celebram a mistura de fé, cabaré e poder. A prova de fogo, no entanto, será nas urnas, quando o eleitor sul-mato-grossense terá de escolher entre a moral evangélica pregada pelas lideranças do partido e uma parlamentar que não esconde sua vida empresarial extra templos.
E no meio disso tudo, uma pergunta começa a ecoar entre fiéis e analistas políticos: afinal, quem converteu quem?

Isa se converteu e abandonou o mercado do entretenimento adulto para seguir o caminho da fé e da política, ou foi Antônio Vaz quem deixou os princípios da igreja para manter o controle da sigla e seus votos?
Como diz a própria Bíblia, “ninguém pode servir a dois senhores.”
Mas no Republicanos de Mato Grosso do Sul, parece que tem gente tentando agradar aos dois, o das Escrituras e o das urnas. E o eleitor, mais uma vez, paga o dízimo da contradição.