Aliados dizem que presidente ficou incomodado com manifestações de embaixador israelense e aguardava repatriação de brasileiros para se posicionar
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tende intensificar ainda mais as críticas feitas desde ontem a Israel, avaliam auxiliares e pessoas próximas ao petista ouvidas pela CNN.
Segundo interlocutores, o movimento de Lula é planejado. E aguardava apenas a repatriação dos brasileiros que estavam na Faixa de Gaza para ser colocado em prática.
Desde a última segunda-feira (13), Lula mudou o tom em relação ao conflito, adotando uma posição muito mais crítica à resposta israelense aos ataques do Hamas.
O presidente, disse um aliado, está “muito irritado” com alguns fatos recentes. Ele citou como exemplo a aproximação do embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Na semana passada, Zonshine se reuniu com o ex-presidente Jair Bolsonaro no Congresso. Ambos dizem que o encontro não foi planejado. Mas a agenda contribuiu para que aliados de Bolsonaro passaram a capitalizar politicamente a saída dos brasileiros da Faixa de Gaza, creditando a liberação da fronteira a uma suposta intermediação feita pelo ex-presidente.
Lula, dizem aliados, já vinha manifestando em conversas reservadas seu descontentamento com a reação de Israel aos ataques do Hamas. O presidente, segundo os interlocutores, já criticava duramente nas conversas reservadas a intensidade da resposta militar e a morte de civis.
Ontem à tarde, Lula já havia comparado a reação israelense aos ataques do Hamas. À noite, o presidente reforçou as críticas. “Se o Hamas cometeu um ato de terrorismo e fez o que fez, o estado de Israel também está cometendo vários atos de terrorismo ao não levar em conta que as crianças, ao não levar em conta que as mulheres não estão em guerra, ao não levar em conta que eles não estão matando soldados”, disse Lula.
Historicamente, partidos de esquerda, entre eles o PT, têm postura crítica em relação a Israel. Desde a eclosão do conflito, Lula vinha sendo cobrado pelo PT por um discurso mais incisivo em defesa dos palestinos. A orientação do governo, entretanto, era clara em manter um discurso ameno, para priorizar a liberação dos brasileiros que aguardavam para serem repatriados.