O processo que visa cassar o mandato da prefeita de Campo Grande, Adriane Lopes (PP), e da vice-prefeita Dra. Camilla Nascimento (Avante), ganhou um novo elemento que despertou atenção nos bastidores da política sul-mato-grossense. Segundo apuração do portal O Contribuinte, o jurista José Eduardo Rangel de Alckmin, ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), foi contratado pelos partidos PDT e Democracia Cristã para atuar na acusação que tenta retirar as chefes do Executivo municipal do cargo.
José Eduardo é primo do atual vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB). E não é a primeira vez que o nome do jurista aparece em causas de alta repercussão. Ele foi indicado pelo ex-jogador Robinho para defendê-lo no Superior Tribunal de Justiça (STJ) no processo que avalia o cumprimento, no Brasil, da pena de nove anos de prisão por estupro, imposta pela Justiça italiana. A atuação do advogado em casos tão sensíveis levanta dúvidas sobre os interesses que podem estar por trás de sua escolha para o processo em Campo Grande.
Além disso, o escritório de José Eduardo foi contratado pelo PSDB em outubro de 2023 para prestar serviços jurídicos nas eleições. Mesmo assim, ele atuou na campanha de Luiz Inácio Lula da Silva, ao lado do próprio primo, o vice-presidente Geraldo Alckmin. Também já advogou para o senador Aécio Neves (PSDB-MG), quando este presidia o partido.
Julgamento suspenso no TRE-MS
O julgamento teve início nesta terça-feira (20), no Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul (TRE-MS). O relator do caso, juiz eleitoral Alexandre Antunes da Silva, votou contra a cassação da prefeita, acompanhando a decisão da primeira instância. Em seguida, o juiz Márcio de Ávila Martins Filho pediu vistas, suspendendo a análise até a próxima sessão do tribunal, marcada para 27 de maio.
O placar parcial está em 1 a 0 contra a cassação de Adriane Lopes e Dra. Camilla. Ainda faltam seis votos para o julgamento ser concluído. Caso haja cassação, a defesa da prefeita poderá recorrer ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Da mesma forma, se a cassação for rejeitada, os autores da ação também podem apelar à instância superior.
Entre a técnica e a política
A escolha de José Eduardo Alckmin para liderar a acusação não passou despercebida. Para setores atentos da sociedade, a presença de um jurista tão próximo ao núcleo do governo federal e ligado a figuras centrais da política nacional sugere que o processo eleitoral em Campo Grande está sendo observado, e talvez influenciado, além das fronteiras de Mato Grosso do Sul.
Adriane Lopes assumiu a prefeitura em 2022, com a renúncia de Marquinhos Trad (PSD), e consolidou sua gestão com foco em políticas sociais, infraestrutura e equilíbrio fiscal. Agora, a tentativa de cassação às vésperas das eleições municipais de 2024, com a atuação de um nome com forte peso político, reacende o debate sobre a politização do Judiciário e o uso de processos como ferramenta de disputa política.
O julgamento segue, mas os bastidores já revelam que, mais do que uma decisão técnica, o que está em jogo é a autonomia política de Campo Grande diante de influências externas cada vez mais visíveis.