No sistema feudal, o vassalo jurava lealdade ao suserano em troca de proteção e favores. Nos tempos modernos, a dinâmica política não é muito diferente, e o ex-deputado estadual Capitão Contar (PRTB) parece ter aprendido isso da pior forma. Desde 2018, ele se comporta como um fiel escudeiro do ex-presidente Jair Bolsonaro, mas, ao que tudo indica, sua devoção não tem sido correspondida.
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A história começa nas eleições estaduais de 2022, quando Bolsonaro, pressionado por provocações de Soraya Thronicke em um debate na Globo, soltou em rede nacional que seu candidato ao governo de Mato Grosso do Sul era Contar. O efeito foi imediato: o então azarão disparou nas pesquisas e foi para o segundo turno contra Eduardo Riedel (PSDB), candidato que já contava com o apoio do PL, partido de Bolsonaro, e de figuras de peso como Tereza Cristina.
A situação gerou um impasse. No segundo turno, Bolsonaro optou pela neutralidade e não acenou mais para Contar. O resultado foi desastroso para o ex-deputado: derrotado por Riedel com uma diferença esmagadora, ele ficou esquecido pelo “Mito”.
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Agora, no período eleitoral de 2024, Contar repetiu o roteiro. Manteve-se apaixonado pelo Messias Bolsonaro nas redes sociais, mas, quando chegou a hora de entrar no jogo político, não teve apoio do ex-presidente para nenhuma candidatura relevante. Permaneceu no PRTB, recusou um convite para disputar uma vaga de vereador pelo PL e rejeitou a proposta de ser vice de Adriane Lopes, única candidata de direita com chances reais de vitória na capital. No fim, junto com o “companheiros” do PT, fez um apoio tímido, como o fez nas eleições municipais de 2020 em favor de Vinicius Siqueira do PSL, à candidatura de Rose Modesto (União Brasil), que foi derrotada no segundo turno por Adriane Lopes, ela mesmo, a que Contar recusou ser vice.
E a rejeição continua. Em janeiro de 2025, o site Fato67 publicou uma matéria revelando que Bolsonaro teria sido claro ao afirmar que, apesar de ter convidado Contar para o PL em 2024, a condição era que ele disputasse a Câmara Municipal. Diante da recusa, Bolsonaro teria sido taxativo: “Ele está desautorizado a dizer que é candidato meu. Agora, ele ter meu apoio para ser senador? Mentira. O PL terá candidatura própria”.
Os apoiadores de Contar já se perguntam até quando ele continuará servindo a Bolsonaro sem receber nada em troca. Enquanto Contar segue em sua fé cega pelo capitão de Brasília, Bolsonaro dá sinais cada vez mais claros de que seu verdadeiro projeto político em Mato Grosso do Sul não inclui o ex-deputado. Para 2026, Bolsonaro já indicou que seus nomes para o Senado são Reinaldo Azambuja, do extremão centrão, e Gianni Nogueira, amiga próxima de Michelle Bolsonaro.
Além disso, por fora corre Marcos Pollon que deve sair do PL para viabilizar sua candidatura a senado que hoje conta com maior capilaridade de voto e habilidade de construção política do que o ex-deputado estadual. E, para o governo estadual, seu aceno é para a reeleição de Eduardo Riedel, o mesmo que derrotou Contar em 2022.
Nos bastidores, Contar ainda não desiste de seus sonhos de grandeza. Cogita se candidatar ao governo ou ao Senado, e namora uma ida para o partido Republicanos, mas sem base, sem apoio e, acima de tudo, sem a benção de Bolsonaro. E enquanto o capitão de MS sonha em conquistar sua medalhinha de imbroxável, Bolsonaro já escolheu seus verdadeiros cavaleiros para a próxima batalha política.
Será que Contar finalmente perceberá que, no tabuleiro do xadrez político de Messias Bolsonaro, ele é apenas um peão sem castelo para chamar de seu?