A dor de uma criança abusada não termina quando o abuso cessa.
Ela cresce junto com ela — escondida atrás de sorrisos, notas escolares e orações silenciosas.
Cresce como uma sombra invisível, alimentada pelo medo, pela vergonha e, principalmente, pelo silêncio da sociedade.
Vivemos em um país onde quatro crianças ou adolescentes são vítimas de violência sexual por hora.
Quase sempre dentro de casa.
Quase sempre por quem deveria protegê-las.
Isso não é apenas um dado. É uma tragédia nacional.
E eu pergunto: até quando?
Quantas Aracelis ainda precisarão morrer para que o Brasil acorde?
Quantas Isabellas terão a infância arrancada?
Quantas Sofias, aqui mesmo em Campo Grande, serão espancadas até a morte diante da nossa omissão?
Quantos João Hélios serão arrastados pela crueldade de criminosos e pela frieza de um sistema que não previne, não pune e não protege?
Esses nomes não são só vítimas — são símbolos de um clamor por socorro.
O que fazemos diante disso?
Onde estão os adultos enquanto essas violações acontecem?
Onde está o Estado? Onde estão os líderes comunitários, professores, pastores, vizinhos?
A resposta é dura: o abuso sexual infantil sobrevive onde imperam a omissão, o silêncio e a covardia.
Fé que se cala diante da injustiça não é fé — é conivência.
Quando pensamos em fé cristã e engajamento social, não podemos ignorar exemplos históricos como Martin Luther King Jr., que enfrentou o racismo nos Estados Unidos movido por sua fé, ou William Wilberforce, que lutou pela abolição da escravidão no Parlamento britânico.
Nenhum deles se contentou em viver uma fé domesticada.
Eles entenderam que servir a Deus também é lutar por justiça.
Cristãos foram chamados para ser sal que preserva e luz que denuncia as trevas.
Não fomos chamados para o conforto da omissão, mas para o campo de batalha da transformação.
Não se pode falar em amar a Deus e ignorar o clamor de uma criança violentada.
A infância grita por socorro.
Araceli, Isabella, Sofia, Raissa, João Hélio…
Nomes que se tornaram memória de uma infância assassinada pela violência — e, muitas vezes, pela negligência do próprio sistema.
Falhamos enquanto sociedade quando banalizamos a erotização precoce, rimos de piadas sobre pedofilia, ignoramos sinais de abuso, protegemos agressores, e não tratamos a infância como prioridade nas políticas públicas.
Falhamos quando projetos em defesa das crianças são ignorados por interesses eleitorais.
Falhamos quando nos calamos.
Talvez, se crianças votassem, haveria mais clamor.
Já teríamos uma pasta exclusiva para a infância nas gestões públicas, prioridade orçamentária e projetos efetivos.
Mas como elas não votam, suas vidas não têm o peso político que deveriam ter.
A partir de agora, se você chegou até aqui, aceite carregar essa responsabilidade.
Proteger nossas crianças não é uma escolha — é um dever moral, legal e espiritual.
Cristãos, sua fé precisa sair do banco da igreja e ir para as trincheiras da sociedade.
A infância brasileira está gritando por socorro.
Quem vai ouvir?