A operação da Polícia Federal que sacudiu o Pantanal sul-mato-grossense nesta quinta-feira (8) começa a deixar rastros mais reveladores do que se imaginava. O que, à primeira vista, parecia um caso técnico de grilagem de terras e fraudes ambientais, agora aponta para algo mais sutil e politicamente incômodo: a ligação financeira entre um dos alvos do escândalo e um vereador da Capital.
A investigação mirou uma suposta rede de empresários, servidores da Agraer e produtores rurais que teriam fraudado documentos para tomar posse de terras da União dentro do Parque Estadual do Pantanal do Rio Negro. A PF afirma que houve manipulação de processos, omissão deliberada da origem pública das terras e emissão de títulos irregulares, tudo sob o disfarce da legalidade. O caso ainda envolve desapropriações milionárias feitas pelo Estado em 2021, quando 36 milhões de reais foram pagos por duas áreas com a assinatura de um ex-dirigente da Agraer e de uma produtora rural, ambos alvos da operação.
Mas o ponto mais curioso dessa história não está nos hectares nem nos carimbos. Está nas urnas. Uma das sócias da principal fazenda envolvida nas investigações aparece como doadora de campanha nas eleições de 2022. E o beneficiado foi justamente um então candidato que, em 2025, assumiria uma vaga como vereador em Campo Grande.
Coincidência? Talvez. Generosidade desinteressada? Pode ser. Mas para quem acompanha os bastidores, soa mais como um bilhete de entrada no jogo político, discreto porém valioso.
O vereador, cujo nome ainda se preserva por educação ou estratégia, parece ter acreditado que esse tipo de apoio passaria despercebido. Esqueceu-se, no entanto, que doações são públicas, e que certas associações, embora legais no papel, pesam no julgamento ético e político. Especialmente quando a origem da fortuna vem de glebas que agora estão sob cerco da Polícia Federal.
O mais intrigante é que, após o estardalhaço da operação, houve quem tentasse desviar a atenção culpando o PT, o sistema, o acaso. Mas as trilhas da grilagem não se apagam com discursos. Elas têm CPF, número de escritura e às vezes, um recibo de doação de campanha.
A pergunta que fica: quantos mais sentaram à sombra dessa mesma árvore?