Ex-presidente tenta anular assembleia que o destituiu após investigações apontarem desvios milionários na entidade.
O Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS) agendou para o próximo dia 18 de março o julgamento de um recurso apresentado por Francisco Cezário de Oliveira, ex-presidente da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul (FFMS). Cezário tenta reverter a decisão que o afastou do cargo, tomada em assembleia extraordinária realizada em outubro de 2024, após vir à tona sua suposta participação em um esquema de desvio de recursos da entidade.
Cezário, que comandou a FFMS por 28 anos, foi preso duas vezes durante a Operação Cartão Vermelho, deflagrada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado). As investigações apontaram que aproximadamente R$ 10 milhões teriam sido desviados da federação, com parte dos valores transferidos para familiares do ex-dirigente.
Troca constante de advogados
Desde que foi preso, em agosto de 2024, Cezário já trocou de advogado três vezes. Inicialmente representado por André Borges, ele passou a ser defendido por Júlio César Marques. Mais recentemente, o ex-presidente da FFMS entregou sua defesa ao advogado Fábio Azato, que agora será o responsável por sustentá-la no julgamento do dia 18.
Marques, o segundo advogado de Cezário, confirmou que deixou o caso, mas segue atuando na defesa de dois sobrinhos do ex-presidente, Aparecido Alves Pereira e Valdir Alves Pereira, que também foram denunciados no esquema de desvios.
Defesa tenta anular assembleia
O recurso que será julgado pela 4ª Câmara Cível do TJMS tenta anular a assembleia extraordinária que destituiu Cezário da presidência da FFMS. Em decisão anterior, a relatora do caso, juíza Cíntia Xavier Letteriello, já havia negado um pedido de liminar para que ele retornasse ao cargo enquanto o mérito do processo não fosse julgado.
A assembleia foi convocada pelo presidente interino Estevão Petrallas e contou com a participação de filiados da federação. Na ocasião, quase 70% dos associados votaram pela destituição de Cezário, após avaliação de documentos e apresentação de defesa por parte do então advogado do ex-presidente.
FFMS aponta gestão irregular e desvios
Nos autos do processo, a FFMS defende a legalidade da destituição e anexou trechos da investigação do Gaeco para justificar a decisão. Segundo a entidade, Cezário teria realizado uma série de atos irregulares, como transferir mais de R$ 2 milhões para parentes, omitir informações em balanços financeiros e até falsificar carimbos de empresas.
A federação sustenta que a decisão seguiu todos os trâmites legais, com direito à ampla defesa e apresentação de argumentos pela defesa de Cezário durante a assembleia. Além disso, reforça que os atos de gestão considerados irregulares e temerários foram analisados juridicamente antes mesmo da convocação oficial da assembleia, respeitando o estatuto da entidade.
Operação Cartão Vermelho e tornozeleira eletrônica
Alvo central da Operação Cartão Vermelho, Cezário foi denunciado por crimes como organização criminosa, peculato, furto qualificado, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. Ele responde ao processo em liberdade provisória, monitorado por tornozeleira eletrônica.
Com a destituição, a FFMS é atualmente comandada interinamente por Estevão Petrallas. A eleição definitiva para o comando da entidade está marcada para abril deste ano. O eleito cumprirá o restante do mandato iniciado por Cezário, que se encerraria em 2027.
O julgamento do recurso de Francisco Cezário, marcado para o dia 18 de março, definirá se o ex-dirigente terá alguma chance de retornar ao comando da FFMS ou se seguirá afastado até a conclusão de todas as investigações e processos.